Abecedários
O presente trabalho resulta da reflexão sobre uma pesquisa que, colocando em diálogo o cinema com a educação, tem produzido abecedários como gesto de comunicação e compartilhamento de produção colaborativa de conhecimento.
Sobre Abecedários:
Au commencement, Dieu Créa l’alphabet! Alors furent créés le ciel et la terre.
“Vingt-deux lettres il les a gravées et les a sculptées, il les pesa et les mis em mouvement selon différentes combinaisons Par elles, il créa l’âme de toute créature et l’âme de toute parole. […] Vingt-deux lettres fondamentales, fixées sur une roue comportant 231 portails. Et la roue tourne vers l’avant et vers l’árriere… Comment les pesa-t-il et les mit-il em mouvement? Marc-Alain Ouaknin
Claire Parnet [1994]: Gilles Deleuze sempre se negou a aparecer na TV. Mas atualmente ele acha sua doença tão parecida com a petite mort, da canção de A. Souchon, que mudou de opinião. Mantive, porém, sua declaração [“a cláusula”], feita em 1988, no início da filmagem.
Gilles Deleuze [1988]: Você escolheu um abecedário, me preveniu sobre os temas, não conheço bem as questões, mas pude refletir um pouco sobre os temas… Responder a uma questão sem ter refletido é, para mim, algo inconcebível. O que nos salva é a cláusula. A cláusula é que isso só será utilizado – se for utilizável – só será utilizado após minha morte. Então, já me sinto reduzido ao estado de puro arquivo de Pierre-André Boutang, de folha de papel e isso me anima muito, me consola muito e, quase no estado de puro espírito, eu falo, falo… após minha morte… e, como se sabe, um puro espírito, basta ter feito a experiência da mesa girante [do espiritismo] para saber que um puro espírito não dá respostas muito profundas nem muito inteligentes; é um pouco vago, então está tudo certo, tudo certo para mim, vamos começar: A, B,C, D… o que você quiser. (Gilles Deleuze e Claire Parnet)
A partir da genial ideia de Claire Parnet, vários pesquisadores tem se inspirado para fazer abecedários de formatos diferenciados. O primeiro resultou de uma profunda amizade e conhecimento entre professor e discípula. A condição de Deleuze foi “publicizar pós-mortem”. Outros abecedários têm sido produzidos com formato de livro (KOHAN e XAVIER, 2009; CORAZZA e AQUINO, 2009, por exemplo); dissertações e teses (SABINO, 2015; REZENDE, 2016); abecedários audiovisuais; entre outros. O presente trabalho resulta da reflexão sobre uma pesquisa que, colocando em diálogo o cinema com a educação, tem produzido abecedários como gesto de comunicação e compartilhamento de produção colaborativa de conhecimento.
Tendo por objetivo pesquisar e aprofundar conhecimentos em diálogo direto com reconhecidos representantes da área do cinema e da educação, ela ganha contornos de ensino e, em alguma medida, também de extensão. Trata-se de um gesto de comunicação da educação como resistência, para resistir de forma contundente à dicotomia entre processo e produto, constituindo uma abordagem teórico-metodológica sobre as temáticas abordadas e ativando uma nova forma de ignorância, no sentido de permeabilizar a membrana entre desejo e conhecimento. A potência da comunicação pedagógica dos abecedários reside no fato de qualquer pessoa poder acessá-los e em conceitos centrais, às vezes simples, que constituem a base para a compreensão de um complexo teórico de uma área do conhecimento. A potência pedagógica dos abecedários consiste na intenção de tornar acessível o conhecimento compartilhado para um público iniciante.